quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O dia que senti o demônio – Parte 3

Vi-me deitado no chão, entre as duas fileiras de bancos que permaneciam vazios. Só existia eu ali, mas o conceito de existir já tinha tomado proporções inacabadas, eu conseguia sentir manifestações de todos os ângulos que meus olhos percorriam.
Estava olhando pra cima, de forma fixa, e a arquitetura do lugar era absurdamente linda. As estátuas pareciam ter vida própria e os olhos delas carregavam uma lucidez que dava pra saber que tudo que eu pensasse naquela atmosfera, seria analisado antes mesmo de qualquer ato. Sentia-me inválido e apavorado. No teto os vidros coloridos me mostravam que acima dali era escuridão plena. Mas não aquela escuridão negra do anoitecer, era um vácuo, eu sentia que era. Pavor.
Levantei-me e pude perceber a música que começava a soar, começando baixo e tocando cada ponto do meu corpo. Tentei focar no som e percebi que eram apenas suspiros e gemidos. Rondei a catedral procurando avistar o que estava acontecendo exatamente. E avistei. Ainda não me recuperei da visão.
A cortina do confessionário se abriu e minha mãe saiu de lá, com os quatro membros no chão, o pescoço erguido de forma absurda e as unhas cravadas no chão fazendo um barulho estridente. Minha reação foi inexplicável, tentei acordar mas meu corpo não me respondia, e minha mãe olhava para mim debochando da minha incapacidade. Ela começou a se debater de forma que seu corpo não tinha mais a forma de um esqueleto, e seu rosto não me dizia nada com expressões, percebia o medo material.
Senti rancor e uma dor sem fim no peito, tentava acordar, me agitar de alguma forma, mas era em vão.
Senti uma dor pontuda nas mãos e pude perceber que meus olhos e minhas mãos sangravam, sentia o charco saindo da minha pele.
Minha mãe tentou se aproximar de mim, ela se encontrava ainda no altar, em visível possessão inexplicável, e eu há uns 20 metros de distância. Enquanto foi se aproximando a imagem cessou e um escuro tomou contar dos 360º de visão que poderia ter.
Um grito ensurdecedor soou e pude ver uma cruz negra de frente meus olhos, a cruz tinha a posição inversa e quando fixei os olhos, minha mãe se encontrava pregada de ponta cabeça na cruz, firme apenas por uma estaca que atravessava sua cabeça e a prendia no crucifixo. Meu susto me fez apagar. 

3 comentários:

  1. Você escreve muito bem, parabéns!
    Estou seguindo :D
    http://www.leituradaestante.blogspot.com/

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  2. Muito obrigado, Larissa! Espero que continue seguindo mesmo.Vou dar uma olhada no seu blog.

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