quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A Meretriz e o vigilante

Caminhante em terras proibidas
Seguiam a meretriz e o vigilante
Presos em mundos avessos
Á venda por qualquer preço
Em troca de trocados furados
Cansados de ansiar o desconchavo
Da vida liquidada
E do descanso bichado.

E suas peles teceram feridas
Em morais mornas e mistas
Perdidas em conceitos mundanos
Do mundo cigano em um mundo dinâmico.

Á vigília e a espreita
A meretriz se desnuda
E o que eram simples olhares
A carne há de comer.
E a moral do vigia, a meretriz alcançou
E como se fosse uma onça
De seus pedaços ela se alimentou.

- Quanta fome! Ele pensou
E então criou toda uma escala
Toda uma indigestão interna
Que a meretriz exalou
Em forma de podres palavras
Que de sua boca calou.
E Aquele hálito azedo
O vigia nunca mais espreitou.

Mas a continuidade não se acalma
E a monotonia tudo rompe
Nesse mundo de adjetivos furados
Que se vendem por poucas desonras.
E tudo que se desonra
É a meretriz que alcança
Toda a desconfiança da falha
Da tortura e da ganância.

-Então que se vendam a moral
E a meretriz se dispôs
Mas como nunca o tinha feito
O sistema ela exaltou
E num acesso de fúria
Ela simplesmente gritou:
-Vendo minha carne, mas não vendo meu sabor
E aquele de gosto macio
O sistema se ausentou.
Pois toda a moral que possuía
A meretriz conservou
E nesse ato honesto
Com o sistema contrastou.

Suas roupas aparentes
Nas ruas normalizou
Todo aquele contraste sujo
Que a vigília despertou
E a meretriz se viu contente
Pois como se pensava no quarto
O sistema se despiu
E o que se viu por baixo
Era sujo, ameno, e pouco viril.

Então a vida passava puta
Cidadãos putos, cachorros putos
Política puta.
Pois a putaria abandonou sinônimos dessemelhantes
E a meretriz se viu enxuta
Naquela sociedade fajuta
Que pouco antes, á considerava a própria puta.

Puta, puta, puta.
-É a sociedade desnuda
A meretriz disse pra si.
E então exigiu suas roupas de linho
Vermelhas, brancas, de cetim
De todas as cores e belezas
Pois quando se contrasta com a sociedade
O que se descobre são riquezas
De crenças, credos, fatos e incertezas
Que já cansada de se martirizar
Ela não mais se pôs a espreita.

-Hoje eu quero é desfilar
Ela expressou com toda certeza
E toda a fila de diplomatas
Escondeu-se de tamanha beleza
Mas aquela falsa puta
Expôs sua sobremesa
E não era nem carne, nem sexo, nem o que quer que seja
A sobremesa, cidadãos
Deixe que a puta diga
- A sobremesa era uma incerteza
De que uma cidadã violada
Tinha voz, ou era só mais uma ratoeira
Da podridão dos becos
Que de tanto avistar, teve fome e anseio
Mas o que a foi merecido
Foi simplesmente medo.

Um comentário:

  1. Muito bacana...

    Vc deveria se debruçar sobre essa sua capacidade de mesclar narrativa e lirismo. Pouca gente consegue fazer isso realmente bem.

    Um abraço!

    ResponderExcluir