quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Eu conto histórias heróicas de polícias heróicas de um contexto nada heróico.

Mãos na parede bandido
És o próprio castigo do vício
O poço da sujeira coletiva
A maçã podre do éden
Já nasceste podre e.... Sujo
Não pertences a esse mundo.

Sorte? Terás tortura e distância
Dos seus entes e de sua gana
E morrerás como um incrédulo
Sem expectativas e sem mistérios
E se por acaso sofres agora
Pois bem, sofrerás no inferno

Família? Utopia da sua vida
És órfão, nasceste empoeirado
Na sujeira do Brasil massificado
Que escoa nos labirintos da fome
E deságua no lixo aparente.
Esse lixo é sua gente.

Pobreza? Desculpa da falha
Tens um olho arrancado agora
E farás vítimas lá fora
E terás sua liberdade fajuta
Que se perde nessa vida imunda
Nos becos do acaso
Dessa justiça suja.

Estás preso e condenado
A morrer pelo sistema judiciário
E não zombe da sua desgraça
Pois seus filhos, sé é que os tem
Sofrerás o preconceito que os mantém
Na esfera da marginalidade
Pois bem, morrerás e.... Amém.

Eu rio, tenho mulher e filhos
Tenho liberdade, dinheiro e vida
Tenho poder e distintivo
Assista!
Sou a lei e a justiça.

Sorria, bem vindo a monotonia
Das grades, dos ratos, dos lixos
Procure seu cantinho
E durma e sonhe e chore
Já não existem sonhos
Pois sairás daqui corrompido
Dentre tantos ciscos e bichos.
Sentes muito pelo fracasso?
Bem, sairás daqui ambientado
E matarás e roubarás e ficarás
Nessa inconstância arrasadora
Pois se volta para seu lar
Não será uma coisa boa
Subirei naquelas alturas
E matarei as pessoas sujas
Pois no sistema em que vivemos
Morte suja é morte nula.

Dois anos de reclusão
Da sociedade que pede em vão
Que proteja seus filhos queridos
Mas os que morrem todos os dias
São os filhos bandidos
E bandidos são.... Como posso dizer
A sujeira da nação.

Acha que tens direito?
És um filho da desgraça
Tens cor de preconceito
Tens cara de bandido
Tens vida de marginal
És uma carcaça abissal.
Se sofres como pobre
És pobre como podre
És podre como gente
És gente, mas não és nada.

Grite! Ninguém lhe ouve agora
Se confias em deus de fato
Não espere a sua glória
Se achas que tens proteção
És a piada infame da desumanização.

Espero que goste da realidade
Pois discorro com certa ansiedade
De agradar as classes maiores
De pessoas que culpam sua raça
Pelos problemas da sociedade
E marginalizam ansiando a marginalidade.

Pra provar minha soberania
Dou-lhe direito de se atrever, e diga
Apenas uma frase maldita
Que de sua boca sai mal soletrado
Nesse linguajar de pobres coitados.


Seu guarda, não sô bandido nem coitado
Eu sou é necessitado
De novas chances e de condições
Mas pra se ter um bom emprego
Ou estuda ou tens sorte
E onde o posso fazer ?
Queria sonhar e crescer
Mas o que me restou foi...
Tenho vergonha de dizer.

E se minha família me pede um pão
Eu imagino a escravidão
Como viver nessa condição ?
Sou pobre, mas sou cidadão.
Se não tenho meus direitos
Eu tomo o seu pão
E se assim ainda lhe sobrar vários
Minhas mãos mais sujas
Suja também a nação.
Tens vergonha de seus irmãos?
Se lê a Bíblia, não vejo razão.
Não tenho credo, tenho medo e tenho um não.
Se acredita em deus, onde está a compaixão?
Tenho vergonha de ti, cidadão.
Sou preto, sou pobre, sou marginal
Sou a desgraça pessoal.
Me vê, e não vê e não crê
O que posso então fazer?

Respondo-te vagabundo
Nasceste num berço imundo
E nele há de morrer.
Não tens razão em nada
Tens que sofrer.
Já foi amontoado nos cantos
Viva como um rato, como um bandido
Pois no meio de cobras, ratos vão desaparecer.
E meu veneno não é químico
Não é letal, não é circunstancial
O meu veneno, preto sujo
O meu veneno são alguns conceitos
Que adquiri com muito nojo
E que se chama preconceito.

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